Detesto as coisas inacabadas.
Nós poderíamos ser
os únicos animais definitivos.
Mas transitamos sem conhecer
o centro do nosso giro.
Quem ouve vozes na escuridão
perdeu-se entre vozes perdidas;
e quem se deitou no silêncio
perdeu-se entre as mesmas vozes.
Eu tinha um projeto
e hoje de manhã não acordei com ele;
era um murmúrio, um susto de luzes
ou quem sabe a sombra de um mar?
Li tantos livros que agora só me recordo
do verso que estou escrevendo.
Que seja súbito ou não, que seja a morte,
a morte que é a única história do mundo,
amorosa ou engastada em anéis
de dedos sangrentos que alisam nosso rosto.
Sim, não somos definitivos.
Ninguém chora por isso.