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Artigo de Tânia Hormann

Correio Braziliense
Quinta-feira, 5 de novembro de 1992

OS POEMAS DE FORTUNA REUNIDOS EM ATRITO

Tânia Hormann

Felipe Fortuna descobriu a poesia durante sua adolescência, na biblioteca do seu pai, no Rio de Janeiro. “Os livros de poesia eram aqueles que eu puxava da estante e lia mais rápido, com mais facilidade, e por isso mesmo poderia lê-los mais devagar, se quisesse.” Desta afinidade imediata, nasceu uma paixão que norteou boa parte de sua vida. Aos 15 anos, fez suas primeiras tentativas de escrever poemas. “Estava naquela fase em que a gente escreve tentando imitar os autores de que gosta”.
A partir destas tentativas, Fortuna envolveu-se definitivamente com a literatura. Formou-se em Letras, trabalhou como crítico literário e tradutor, e hoje lança seu terceiro livro, Atrito, às 19h, no Carpe Diem (104 Sul).
Assim como em seu primeiro livro de poemas, Ou Vice-Versa, a morte, a velhice e a solidão estão presentes mesmo em temas diversos como a amizade e a insônia. Desta vez, no entanto, é uma presença mais suave, de entrelinhas. “Acho que tenho um certo fascínio por esses temas, mas agora lido com eles de uma forma mais madura. O primeiro livro foi uma seleção de poemas que fiz entre os 18 e os 23 anos e os poemas de Atrito são de uma seleção mais recente, avalia o autor.
Atrito surgiu do encontro de dois materiais diferentes, como o próprio título sugere. É o resultado da junção entre o papel e o texto, da ideia com a palavra. Os poemas mostram esse encontro, como as fagulhas de dois materiais que se atritam”, explica Felipe.
Tendo trabalhado muito tempo como crítico, a maior preocupação do escritor é com a qualidade do trabalho. “Técnica é um elemento importante do trabalho, mas pode ser perigosa. Eu poderia fazer um novo livro com a mesma técnica que usei neste, mas certamente não teria a mesma qualidade. Para mim, o escritor deve sempre desconfiar da produção quando atinge uma técnica boa”, define.
“Às vezes, um verso aparece na cabeça da gente e já está pronto, mas depois é preciso trabalhá-lo e inseri-lo em um poema. O grande desafio está aí. Conseguir comunicar a experiência humana de forma global. A poesia é um campo de influência de outras linguagens, como a psicologia, a pintura e até das cidades e das viagens”, diz Fortuna.
Apesar disso, Fortuna diz que seu livro não sofreu influências de Brasília e poderia ter sido escrito em qualquer outro lugar. “Acho que esta cidade, por ter um caráter muito burocrático, tem um reflexo negativo nas produções culturais. É patrimônio cultural da Humanidade, mas não tem nenhum desses três elementos. Os valores culturais de Brasília migram daqui à procura de um ambiente menos asfixiado. Assim como Drummond saiu de Itabira, os grupos de rock vão para o Rio, quando fazem sucesso.”
Com todas as críticas, Brasília é uma cidade obrigatória para quem ingressou na carreira diplomática. Sendo assim, pelo menos por algum tempo os brasilienses poderão contar coma presença do crítico e poeta valoroso.

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