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Das impurezas

Misteriosa também é
a cera de meus ouvidos
(e tudo o que escapa de mim:
meu vácuo, meus excessos, minha urina).
É o que fabrico de coisas esquecidas
que se misturam no sonho
sem alimento de luz.
Misterioso o suor, misterioso o esperma,
todas as heranças
que dedico à vida por cansaço,
calor e calafrio.
O corpo se faz sozinho, oferta
nua e ruminada,
aquecido pelo acaso,
derramando verniz pelos poros que me informam
do mundo e do contágio.
Excrementos, unhas, cabelos:
me fazem mais vivo, mais morto ou doceamargo
ou mais resignado?
Já não quero perder a dor nenhuma.
O que me resta é partilhar a perda
com outro corpo que me consuma
sem direção e sem destino
– até que eu perca o suave grito,
até que eu perca o medo.

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