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Ilha na Ilha

Sei que o prisioneiro lentamente passa
perto das cercas.
Não sei bem se ele caminha:
daqui, parece que vai empurrado
sob o sol mais forte, mais aparente
do que o seu uniforme.
Não importa: está vendado.
Sei que está
aguilhoado, as pernas se tocam
mal se abrem
passo a passo.
Sei que está manietado
também, e os braços se juntam
com som de galhos secos.

Sei muito do que está acontecendo.

Mas não sei se há visões piores
dentro do sono ou durante o dia
sobre o que sei.
Pois enquanto queimo petróleo e desmato
e enxoto o ar para chegar noutra cidade,
existe Guantánamo, à beira
da praia paralítica.
Posso estar
dirigindo, fumando ou exagerando
algumas proezas muito antigas
(as mais recentes são milagres a explicar)
e Guantánamo aguarda
com susto.

Nenhuma rotina adormece, e nem cabe
reclamar das dores faveladas
e dos acidentes.
Derrama-se a tinta
sobre um dia melhor, e sei
que Guantánamo escorre em todas as direções.

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