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Madrugada de outubro

Há madrugadas em que não creio.
Fico orvalhado, fico antigo, não convenço.
Dentro de cada esfera da noite
há luzes dos viadutos, o barulho dos ônibus,
a espera do crime, do crime terrível.
Mas não reconheço
meus braços lançados assim sobre a janela
e os olhos viajando pelo breu.
Já repeti alguns temas, já escrevi poemas para a mesma mulher,
algumas vezes achei difícil viver,
outras vezes necessário.
Já procurei muitas frases escritas
apenas para entendê-las.
E agora, exposto como espelho à madrugada,
desnudo-me do dia – suas gravatas e ternos –
com o sorriso fechado, agradecido.
Às vezes é mais interessante procurar ninhos
do que ir às livrarias.
E embora turva, a madrugada permite
que pelas folhas escuras, pelos galhos recolhidos
haja essa pulsação contida, esse escasso desespero.
Estamos todos na mesma procura.

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