ISTO É
Ano 37, No. 2270
22 de maio de 2013
EM DEFESA DA POESIA
Ivan Claudio e Aina Pinto
Um verso ecoa ao longo do quinto livro de poesia de Felipe Fortuna chamado A mesma coisa (Topbooks): “Todo poema toca ao menos no gatilho. / E de repente contaminada / a vida esparsa.” É da própria poesia – sua língua libertária, seus impasses e os desafios para quem a pratica hoje – que se ocupa a obra. No mais extenso dos poemas, que dá título ao livro, Fortuna trata da repetição, da impostura e de como versejar dialogando com a tradição – o que faz pensar no “eu é um outro” de Arthur Rimbaud e no “fingidor” de Fernando Pessoa. “O Suicida” enumera poetas que apertaram o gatilho no confronto das palavras com a realidade, como Sylvia Plath, Alfonsina Storni e Vladimir Maiakovski. “Contra a Poesia” faz justamente a sua defesa. “Nossa sociedade está baseada na imitação, na cópia e no plágio. A busca da originalidade não é original na medida em que se imita essa busca”, diz Fortuna. Na vertigem de sua prosa poética, ele mostra quão musical é a cadência de seus versos.