Tua morte não foi tão imediata
como foi saber que estavas morta.
Foi morte lenta como o tempo de um verbo
que conjugo todos os dias com espanto.
Agora o tempo passa, e que surpresa
saber que o tempo também morre e se estreita;
que o corpo unido ao corpo se dissolve
quando a morte também se deita
e os devassa; e se deleita.
Teu olho de mar embaçado,
teu sorriso sem raiz, sem fome,
têm outro nome: um nome que eu não fiz
(e ele é todo luminoso e estranho
como as palavras de quem se feriu).
Não sei bem a tua morte, não sei bem
se ela nasce entre pernas abertas.
Tua morte não foi sozinha; um piano
morreu; até o silêncio do piano morreu.
Tuas mãos não sabem mais tocar as minhas,
teu nome líquido – não sei se resta.
Só sei que morreste com segredos,
pois o mundo é a doença mais secreta.