O drone chegou. Seu voo de silêncio (a
menos que atravesse
o céu escarlate) inverte o mundo:
não é a bomba cega
que pulveriza o prédio e a fuga
– é a máquina que acerta em cheio
e vai e volta
com sua missão de rapina
sem sequer aterrissar.
Avião crucificado. E voa sem sacrifício
sem kamikaze
sem aguardar combustível
e sem mãos grudadas
aos batimentos cardíacos.
Seus olhos deslocam a vida.
Seus telescópios mergulham fundo
no corpo
que carbonizou: não houve nem silvo
nem ar.
O drone lança asfixia,
está por trás, está
por cima, está no filme assombrado
que o revela, na sala refrigerada.
E quem o comanda
(sem turbulência
sem vento de cauda
e sem ascensão)
pode desligar os motores (findo
o expediente)
mas pode também
(igual ao drone)
sorrir em silêncio.