Sim, tudo começa.
O trânsito. As máquinas. Os casais.
As coisas.
No início, dizemos belas palavras.
Mais tarde, elas se agitam, voltam, vão embora.
No fim, dizemos belas palavras
no lugar daquelas que esquecemos.
O que será
este sabor aceso na boca
– como num porão, entre garrafas,
o secreto licor jamais bebido?
Estes olhos como pedras: como doem.
Na areia de sol dezembro, as aves
pousam sobre elas, e eles não vêem mais.
E tudo derrete.
Tudo começa. Ouvimos no sino
e o badalo e o estalo: tudo começa.
Haverá vida nesse verso?
Haverá comida durante toda a festa
e poderei, por exemplo,
conhecer uma cidade no interior da Turquia?
Não sei se algum amigo telefonou. Os telefones não existem.
Sim. Sem medo. Sem alergia. Sem palidez.
Sem taquicardia.
Os horizontes acabam no mistério,
e no mistério tudo começa.
Tudo de novo mais uma vez repete-se começa.
Era só o que faltava.