facebook

Poema conjugal

A noite, amor, é orvalho e Valium
caindo na serena madrugada.

Minhas palavras de cuspe
pesam na boca
à hora nervosa de dormir.

Que fazer, amor, se teu corpo ao lado
é medo – pois o dia inteiro
andei sobre cacos –
quando me deito?

Abro a janela para respirar: mas lá
também não encontro ar.

A noite, amor, está doente:
neste quarto, um pouco do que morreu
está presente.

Vamos andar.
Vamos à cozinha.
Vamos respirar. No silêncio feroz,
cada um de nós
abre com cuidado o seu bico de gás.

Print Friendly