A noite, amor, é orvalho e Valium
caindo na serena madrugada.
Minhas palavras de cuspe
pesam na boca
à hora nervosa de dormir.
Que fazer, amor, se teu corpo ao lado
é medo – pois o dia inteiro
andei sobre cacos –
quando me deito?
Abro a janela para respirar: mas lá
também não encontro ar.
A noite, amor, está doente:
neste quarto, um pouco do que morreu
está presente.
Vamos andar.
Vamos à cozinha.
Vamos respirar. No silêncio feroz,
cada um de nós
abre com cuidado o seu bico de gás.