Em Taturana, novo livro de Felipe Fortuna, poemas visuais inovam a obra
Correio Braziliense
17/12/2015
Nahima Maciel
Foi preciso um processo de depuração para chegar aos poemas visuais de Taturana. Há muito Felipe Fortuna queria fazer poesia visual, mas sempre se encontrava preso à ideia de que o gênero precisava seguir os ditames proclamados pelo movimento concreto nos anos 1950. “Sempre pensei em fazer, mas nunca aconteceu porque a poesia visual no Brasil está muito relacionada ao movimento concreto. Mas a poesia visual tem, pelo menos, 3 mil anos. Tem elementos dela até no Egito antigo. Quando me libertei da ideia de que esse tipo de poesia só existia no concretismo, consegui fazer”, conta.
Liberto de conceitos e modelos, Taturana é um conjunto muito livre de versos que refletem sobre todo tipo de temática. Há política e humor, mas também algum lirismo e um pouco de romantismo nos versos de Fortuna. Eventos políticos recentes ou mais distantes inspiraram versos como os de “Elos da Corrente”, que trata das manifestações de 2013, e “Tabela do Campeonato”, que relembra os momentos mais violentos da ditadura militar. “A Pátria Veraz” é um trocadilho entre versos de Olavo Bilac e do Hino Nacional, e a especulação financeira ganhou uma crítica em “Ganhei (Perdi) Meu Dia”.
Até Augusto dos Anjos entrou para o universo de Fortuna: “Eu” é uma versão em poesia visual de alguns versos do poeta simbolista. “Ele era um tremendo poeta visual. Quando leio os poemas dele fico muito impactado pela imagem a que me remetem. Ferreira Gullar diz que Augusto dos Anjos é um poeta muito táctil, e eu concordo, mas também acho que ele é muito visual”, diz Fortuna.
Taturana foi concebido ao longo de um ano, quase que instantaneamente. “Os poemas foram surgindo uns após os outros como seu estivesse participando de uma sessão espírita”, brinca o autor. A tecnologia ajudou muito a dar forma ao conjunto com mais rapidez. Programas de design gráfico facilitaram o processo. Agora, Fortuna quer ir além do papel e testar a capacidade de dar movimento aos poemas graças a programas de computador próprios para animação.
Pode não parecer, mas o sétimo livro de poesia desse carioca, que é também diplomata, mantém profunda conexão com os volumes anteriores. O tom político é um dos elos. “Taturana tem um pensamento político vinculado, ou um pensamento dos fatos políticos. E tem uma presença de humor em alguns poemas”, explica o autor, ao lembrar que a política é tema presente há séculos na poesia. “Homero com a Ilíada fez uma poesia política, a guerra era o tema. Maiakóvski é conhecido pelos poemas em forma de discurso e Drummond fez o belíssimo A rosa do povo, sobre a Segunda Guerra. São múltiplos os exemplos de política combinada com a poesia, aponta o poeta, que cedeu alguns versos inéditos para publicação nesta página.
Taturana
de Felipe Fortuna
Edições Pinakotheke
116 páginas, R$ 42
Lançamento hoje, às 19h, no Carpe Diem
(SCLS 104, Bloco D, loja 1)