Folha de S. Paulo
Sábado, 25 de janeiro de 1992
LANÇAMENTOS
José Geraldo Couto
Nesta coletânea de artigos sobre poesia brasileira, o jovem poeta, crítico e tradutor Felipe Fortuna se dedica a iluminar a obra de poetas obscuros, como o simbolista Duque-Costa, ou aspectos obscuros de poetas consagrados, como Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto. Com exceção do ensaio mais longo, “Um Animal Noturno: o Poeta Simbolista”, trata-se de textos curtos publicados na imprensa em 1986 e 1990, quando o autor tinha entre 23 e 27 anos de idade.
Dado esse seu caráter heterogêneo e, em grande medida, circunstancial, o livro apresenta certa irregularidade. Textos como “Quando Olavo Bilac Fez Rir” (sobre o humor em Bilac) e “O Moderno Paradoxo” (sobre tradição e modernidade em Bandeira) são mais esboços, roteiros de trabalho do que propriamente ensaios. Brilhantemente escritos, atiram para todos os lados, apontando inúmeras pistas e sugestões de pesquisa, mas, à falta de um método crítico mais consistente, permanecem no terreno do fait divers. Provocam no leitor uma sensação de que o mais importante ficou de fora.
Em ensaios como “A Paisagem Corporal” (sobre o erótico em João Cabral) e “Um Animal Noturno”, no entanto, Fortuna mostra-se um crítico sensível, culto e original, e sua escrita oferece o prazer de acompanhar uma inteligência em ação.
Em meio à notável variedade de temas abordados nos 16 artigos do volume (da marginalidade de Roberto Piva ao populismo messiânico de Thiago de Melo), alguns tópicos se repetem, revelando as preferencias do autor: o erotismo, a política e, sobretudo, a herança simbolista. Ao passar ao lado da semiótica que congestionou a crítica nas últimas décadas, Fortuna devolve à atividade a graça e a elegância que caracterizam nosso melhor ensaísmo, mas parece ainda tatear em busca de um método de análise que evite o mero impressionismo.