Aquele garoto que vê
o mercado ficar cheio
se chama Samir. Ele crê
em Deus de todas as maneiras:
como pássaro brilhante, como água
fresca entre pedras, como o assobio
do vento deserto.
Mas agora desmembrado
e a cabeça confundida aos estilhaços
Samir não vê.
Sobre o mercado
a bomba apontou o inimigo
e levou quem mais podia:
desenrolou-se um tapete até o meio
subitamente a conversa cessou
e os órgãos vitais se espalharam
no bazar já tão repleto,
algumas peças em liquidação.
A mãe de Samir entra
entre ruínas e vê.
Vê fumaça, vê escombros
o apocalipse ali, louvado Alá,
aos gritos ela vê, e vê
que os corpos são dos outros
não são pedaços de Samir.
A perna de Samir
pode estar sob duas colunas
e a mãe não vê e grita
por isso também.
O filho
que corria no mercado
entre algibeiras guitarras narguilés
frutas panos jóias e sedas
paralisou os negócios,
morreu junto com os outros
sem demanda e sem oferta
sem saber, em meio à guerra,
como e por que barganhar.