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Uma lenda

Uma noite adentrei com fogo e vinho
no centro de uma festa sem palavras,
e aquilo que trazia, fui roubado,
e bêbados se queimaram em fogo e vinho.
E voltei como quem perde chão e rastro
(parecia que pisava alguns venenos
que nasciam por ali em folhas grandes)
e cheguei assim perdido do que eu era.

Outra noite voltei com fogo e vinho,
da mesma cor e álcool rubro derramados,
mas na festa os homens murmuravam, e nomes
confusos me invadiram: fui roubado.
E adentrei em casa sem mais nada,
braços longos e vazios de amor e dedos,
e percorri-me sem achar qualquer consolo,
e assim deitei o medo que trazia já com sono.

Mais uma noite fui com fogo e vinho,
iguais em calor e embriaguez,
mas os homens já falavam largos versos,
eram claros e disseram: – Basta disso.
E cheguei em casa calmo e agradecido
ao fogo e vinho quentes que eu tinha,
pois dei a fala aos homens, que me odeiam
por deixá-los saber que estavam vivos.

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